"Corpo e Mente" - Desafio de 30 dias, parte 2/2

Há um mês atrás decidi começar um novo desafio para O Macaco de Imitação. Como disse na 1ª parte deste artigo, já tinha experimentado outros projetos e estava na altura de começar qualquer coisa relacionada com a saúde física e mental.

O plano era simples – durante 30 dias fazer exercício físico, meditação e escrita, todos os dias. Mas porquê?  Para quê tanto trabalho? Tal como quem soube ao Everest o faz porque a montanha está lá, também eu, num nível (muito) mais pequeno, queria fazer este desafio porque ele podia ser feito. E também porque o desafio estava definido, era saudável, e nesses 30 dias ia aprender muitas coisas.

Tenho feito, n'O Macaco de Imitação, estes desafios para me testar e perceber o que gosto e não gosto de fazer. Aprendo maneiras de me organizar e de avançar nos meus objetivos. E aquilo que aprendo durante os desafios serve para outras áreas da vida.


Zen and the Art of Happiness, de Chris Prentiss. O melhor livro que li este mês e, possivelmente, este ano. Imagem retirada de goodreads.com.

Exercício Físico

Defini que devia fazer, pelo menos, 45 minutos de exercício por dia, e não tinha de ser sempre o mesmo desporto. Aliás, quanto maior a diversidade, melhor. Estreei o meu primeiro dia com uma surfada no meu "spot" favorito no Baleal. No total surfei 13 vezes e, no último dia deste desafio, surfei na mesma praia que no primeiro (e só percebi isso depois). Nunca surfei tantas vezes num mês. Às vezes não entro no mar porque não está "perfeito" e, durante este mês, fui mais paciente e dei mais oportunidades ao mar. Além de surfar mais vezes, surfei grandes ondas.

O Surf é o meu desporto de eleição, mas não se pode surfar todos os dias porque nem sempre está bom (ou razoável sequer). Então, nos dias em que não surfei, virei-me para a corrida. Corri 9 vezes durante estes 30 dias, num total de 65 km. No princípio não corria mais que 20 minutos sem ter de parar, e fazia pouco mais de 5 km no total de corrida+caminhada. Para o fim, já corria 10km sem parar uma única vez e o meu ritmo tinha aumentado bastante desde o princípio. O truque foi tentar evoluir todos os dias - seja por correr mais tempo, ou mais rápido, ou uma maior distância. Foi também monitorizar as corridas que fazia com a App RunKeeper, porque assim conseguia analisar bem a minha evolução e ficava motivado. Além disso, não me posso esquecer das companhias de corrida que, muitas vezes, me motivaram a correr mais.

Surf e corridas à parte, experimentei uma aula de yoga (estava todo torto, mas foi uma aula interessante) e fiz dois treinos de musculação (um deles correu bem porque tinha companhia, no outro fiz sozinho e não sei bem o que andei a fazer).

Meditação

A meditação seria, supostamente, a parte mais fácil deste desafio. Seria só estar sentado, 10 minutos, sem pensar em nada. Nunca pensei que isso viesse a ser tão difícil. Já tinha tentado ganhar o hábito da meditação várias vezes, e até já tinha escrito sobre isso n’O Macaco de Imitação, mas nunca o consegui fazer por muito tempo. Neste mês estava determinado em ganhar o hábito de uma vez por todas.

Nos primeiros 15 dias experimentei uma série de meditações que não funcionaram. Experimentei meditar em várias alturas do dia, sentado, deitado e a ouvir música. Aprendi que meditar à noite não resulta - essa é receita certa para adormecer. Agora sei que a melhor altura para meditar é sempre depois de acordar e fazê-lo sentado no chão, sem distrações. Ao ser a primeira coisa do dia, estamos mais atentos e a meditação trará mais efeitos positivos. E é isso que vou fazer daqui em diante.

O mais difícil da meditação é controlar a corrente de pensamentos. É muito difícil, no início (e ainda agora), não pensar em nada. É preciso treino para nos sentarmos como deve de ser, de costas direitas, e colocar toda a concentração na respiração. A mente vagueia para os "problemas" do dia-a-dia, ou para o passado, ou para o futuro, ou para aquilo que vamos fazer já de seguida. Nessas alturas - aprendi ao ler uma série de blogs e livros - o melhor que pudemos fazer é consciencializar que esses pensamentos estão presentes, não "conversar" com eles, e trazer de novo a concentração para a respiração.

A meditação está em todas as listas de coisas que se devem fazer para ser feliz. Isto porque a meditação ajuda-nos a relaxar e a focar a atenção naquilo que fazemos no dia-a-dia. Ainda não sou "bom" a fazer isto, e tenho um longo caminho a percorrer. Mas fico mais descansado ao saber que grandes "mestres" nesta arte demoraram também algum tempo para conseguir vazar a mente de pensamentos e sentir os efeitos positivos da meditação. Depois de 30 dias já tenho o hábito bem definido e agora só preciso de continuar.

Escrita livre

A primeira vez que ouvi falar em escrita livre foi neste site. Esta ideia surgiu do livro The Artist's Way, onde o autor sugere a escrita de 3 páginas diárias pela manhã. Este processo, tal como a meditação, ajuda a vazar a mente de pensamentos desgastantes, porque acabamos por escrevê-los nestas páginas. É também importante que a escrita seja feita sem pensar demasiado, sem correções e sem julgamento. Não há coisas que devem ou não ser escritas. Já tinha experimentado a escrita livre neste site e decidi inclui-lo neste desafio "corpo e mente". Tal como é feito no site, decidi escrever 750 palavras diárias e, nestes 30 dias, escrevi um total de 26840 palavras (+- 40 páginas!).

Gostei muito desta parte do desafio. Aprendi a gostar mais de escrever e, se no início era difícil escrever as 750 palavras, houve momentos em que escrevi 1000 palavras antes de parar para pensar no que estava a ser escrito. Apesar disso, penso que a meditação tem mais efeitos positivos a médio-longo prazo e por isso não vou continuar a fazer, todos os dias, a escrita livre. No entanto, vou começar a escrever mais, disso não hajam dúvidas.

As dificuldades

Mas nem tudo foi fácil. Falhei alguns momentos porque estava doente ou porque estava em festa ou porque estava a morrer de sono. Como aqui escrevi, falhei no dia 12 (em todas as frente) porque estava na festa das latas em Coimbra. No total, falhei 4 dias de exercício físico, e 2 de meditação e escrita livre. Em 30 dias, foram poucos "maus" momentos. Noutra altura podia ter desistido porque já não ia fazer um mês "perfeito". Mas isso seria uma estupidez, isso seria uma derrota e portanto não desisti. Nesses dias aprendi porque tinha falhado e com isso evitei falhar mais vezes. Alterei as alturas do dia em que meditava e escrevia para garantir que não as falhava porque estava com sono. Para o final, escrever e meditar eram as primeiras coisas que fazia cada dia.

Houve outros momentos que cumprir o exercício físico foi muito difícil. Há sempre o dia em que está a chover, ou que estamos doridos, ou não temos companhia ou, simplesmente, não nos apetece. Esses são os dias que nos põem à prova. Em qualquer objetivo na vida, em qualquer desafio, existem esses dias. Nessas alturas temos de arranjar força para cumprir o prometido, porque de outra forma vamos falhar, mais uma vez, nesse projeto. Aprendi que se passarmos essa barreira, fica tudo mais fácil daí em diante, e por isso vale a pena o esforço adicional.

Os livros que acompanharam o desafio

Nenhum bom desafio estaria completo sem uns bons livros. Comecei então por ler The Miracle of Mindfulness, de Thích Nhất Hạnh. Nele aprendi a importância de Mindfulness - viver no presente. É sobre estar concentrado naquilo que estamos a fazer no momento. Como exemplo, o autor escreve que quando estamos a lavar a loiça, devemos estar só a lavar a loiça, e não a pensar nas coisas que temos para fazer em seguida. Se temos por hábito estar perdidos em pensamentos sobre o passado ou o futuro, perdemos a vida verdadeira, que se encontra no presente, naquilo que estamos a fazer no momento.

De seguida li o livro The Four Hour Body de Tim Ferriss. É um livro interessante, mas deve ser lido com um objetivo claro em mente, seja perder peso, ganhar força ou outro. Mas com uma passagem rápido pelo livro consegui perceber o seu potencial.

Por último, li o Zen and the Art of Happiness, de Chris Prentiss. Este foi um dos melhores livros que li este ano. Chris Prentiss ensina-nos que não há eventos bons ou maus, mas que eles assim se tornam pela maneira como nós os interpretamos. Ele diz-nos para pensar que, qualquer coisa que nos aconteça, é a melhor coisa que nos podia ter acontecido. Este pensamento, tão simples, tem o poder de tornar a vida muito mais feliz. Aconselho vivamente a leitura deste livro.

O próximo desafio

Ainda não sei o que vou escrever a seguir para O Macaco de Imitação. Estou agora a ler um livro sobre o que podemos aprender com os grandes filósofos da antiguidade e quero, num próximo artigo, resumir uns 4 ou 5 livros sobre boas filosofias de vida. Vou também escrever sobre um método que tenho usado para aumentar a minha produtividade nas últimas semanas. E também quero começar um novo desafio e aprender qualquer coisa nova, seja investir 20 horas em qualquer coisa, ou uma semana, ou 30 dias.

Estou orgulhoso daquilo que consegui fazer neste desafio. Dos 90 momentos de exercício, meditação e escrita, apenas falhei 8. Aprendi a organizar-me melhor, a lutar contra a falta de vontade, e aprendi boas filosofias de vida com os livros que li. Fiquei em melhor forma, tentei relaxar com a meditação e gostei muito de escrever as 44 páginas. Foi um mês saudável, tanto para o corpo, como para a mente. Sinto que agora estou mais preparado para começar novos desafios.

Etiquetas: , , , , , , , , , , , , , , , ,